O terror em Toronto é diferente

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Texto do jornalista Martin Regg Cohn, publicado no The Star em 24 de Abril de 2018.

O impacto aqui é mais profundo porque nós, canadenses, achamos que somos imunes ao terror. Talvez porque estejamos distantes geograficamente e politicamente de cidades que geralmente são alvos. Ainda assim, somos abençoados com uma defesa coletiva única de Toronto.

A diferença é que nós somos diferentes. Nossa diversidades oferece imunidade, pelo menos parcialmente, da intolerância contra aqueles que tem opiniões diferentes das nossas que aparecem de tempos em tempos.

As vítimas, as testemunhas, os policiais e paramédicos eram todos torontonians, sim. Mas os nomes e rostos que aparecem nas notícias, e que viram notícias, nos lembram que nós somos um povo do mundo todo. Pessoas como Ali Shaker, Amir Bahmeyeh, Ham Yu-Jin, Amir Farokhpour e o Oficial Peter Yuen.

Para por um segundo, veja e escute o que aconteceu, quem foram essas pessoas e como a cidade respondeu. Quem eram essas pessoas?

Um memorial brotou ao longo do trecho da Yonge Street, em Toronto, onde o ataque mortal com uma van aconteceu na segunda-feira. Um morador que mora próximo à Yonge e Finch disse que a área era conhecida por ser muito seguro. (The Canadian Press)

Pessoas de todos os lugares, de toas a raças, de todas as crenças. O que significa que o terror atinge a todos nós. Ninguém está preocupado em demonizar ninguém.

O velho slogan “unidade na diversidade” é real aqui. Principalmente hoje quando estamos todos unidos demais para ficar divididos.

O termo “terrorismo” pode ou não ser aplicado à tragédia que se abateu em Toronto esta semana. A diferença entre terror (medo irracional e ansiedade) e terrorismo (o uso calculado da violência e “terror” para atingir objetivos políticos) é muito clara.

Nós nunca saberemos se os motivos eram de meramente aterrorizar ou se há um fundo de terrorismo até que a polícia divulgue os resultados da investigação. Mas o efeito nas vítimas, sejam elas os mortos, os machucados, quem perdeu alguém, ou mesmo os traumatizados, para esses, pouco importa se os motivos eram políticos ou criminais.

Você não pode massacrar 10 pessoas na rua principal de uma cidade sem ter um impacto colossal. O terror e o terrorismo tem motivos diferentes mas métodos semelhantes. Mas a capacidade de se resistir e se recuperar de Toronto não deve ser afetada por isso.

Considere como a realidade multicultural do Canadá colabora para calar as reações de ódio contra o massacre e nos torna cada vez menos interessantes para terroristas. Afinal de contas, quem você está atingindo quando mata um canadense se somos de todos os lugares e de nenhum lugar em específico?

Como correspondente estrangeiro, eu tive que cobrir ataques suicidas no Oriente Médio com uma certa frequência. Eram explosões ensurdecedores que chacoalham o chão, seguidos de uma cacofonia de sirenes, e a visão de corpos desmembrados arremessados em mercados, ônibus ou bairros residenciais, dependendo do alvo.

Em Israel, as vítimas eram principalmente Judeus (exceto quando os alvos eram mal calculados e atingiam cristãos árabes ou muçulmanos mortos como dano colateral). O alvo era óbvio, o método bem evidente. O terrorismo inegavelmente brutal contra as vítimas e irresistível para os perpetradores.

Mensagem enviada e recebida. Nós estamos a um mundo de distância das zonas de conflito, mas não estamos isolados das repercussões. As vítimas desse ataque nos lembram como o mundo está mudado e ninguém está seguro, não importa onde se esconda.

A Internet hoje é quem torna tudo isso possível, conectando cada indivíduo aos epicentros do terror, não importa o quão você tente se esconder, de forma direta ou indireta. Conspiradores não precisam da colaboração de células de terror para criar conspirações intrincadas que precisam de dispositivos explosivos complexos e conhecimento especializado.

Alguém com um plano numa van é tudo que se precisa para ceifar a vida de pessoas com uma certeza mortal. Na Europa, os terroristas eram lobos solitários com motivações muito semelhantes; em Toronto, o assassino pode ter sido apenas um espírito solitário com intenções e pensamentos insanos.

De qualquer maneira, é uma nova forma de terror, de certa forma, irresistível. Sem dúvida, porque não importa a quantidade de detectores de metal, de revistas, the buscas em computadores ou proibições de líquidos ou cremes que possa prevenir um motorista determinado de subir nas calçadas e matar pedestres, seja na Ponte de Londres ou em uma rua em Toronto.

Qualquer um atrás de um volante agora possui uma arma de destruição em massa em potencial, em qualquer lugar, a qualquer hora. A diferença é que aqui em Toronto ele pode matar pessoas, mas não vai conseguir colocá-las umas contra as outras.

Está é nossa mais forte característica. O multiculturalismo canadense é um modelo para o mundo, um experimento de integração sem igual.

Ele agora está sendo testado. Não pelas vertentes de imigração ou de recebimento de refugiados, mas pelas tentativas imprevisíveis de terror e terrorismo, que dependem que reajamos contra essas provocações atacando uns aos outros.

Esses não somos nós, nem nunca seremos.

_Martin Regg Cohn é um colunista que mora em Toronto e cobre eventos políticos em Ontário. _