PoDeixar #2.18 Na pele de um professor

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Na pele de um professor

Este programa deveria ter sido lançado no Natal pela quantidade de presentes e novidades que a gente trouxe!

Primeiro, gostaríamos de dar as boas vindas à nossa querida Rosa da Silva, corretora de imóveis e que se junto hoje ao nosso time de comentaristas do PoDeixar. A partir deste programa Rosa vai estar falando sobre o mercado imobiliário no Canadá e esclarecendo dúvidas dos nossos ouvintes sobre o assunto.

Em segundo lugar, lançamos hoje um novo quadro do programa e uma nova seção do site chamada “Três Minutos Que Valem Uma Vida”, onde traremos uma mini-entrevista com brasileiros que perseguiram o sonho de morar no Canadá e contam como vivem hoje, suas conquistas e seus sucessos. Pra inaugurar o programa desta semana entrevistamos Denise Marques, do site Guia Brasil.

E finalmente, matamos dois coelhos num tiro só. Continuando nossa série sobre Educação no Canadá, entrevistamos um professor primário que nos conta como é o dia-a-dia dessa profissão. E como bônus, a entrevista é toda em francês, pra você afiar seu ouvido e praticar. Pra quem se perder no assunto, segue aqui toda a entrevista traduzida.


BERG: Oi Steph. Tudo bem? Stephan: Oi Berg. Tudo bem, obrigado.

B: Antes de mais nada, obrigado em meu nome e do Masaru por aceitar conversar com a gente. É super bom poder esclarecer alguns pontos. Como a gente falava agora a pouco, a gente aprecia muito, muito a tua experiência. S: Excelente. O prazer é todo meu.

B: Perfeito. Então, como a gente dizia, bem, tu és professor. Fala um pouco de ti, S: Eu ensino em uma escola primária. Atualmente eu cuido do segundo ano. Então, são crianças entre 7 e 8 anos. Faz 15 anos que eu trabalho com educação. Eu já dei aulas também para turmas de primeiro ano, quarto e terceiro anos por quase uma década e hoje eu ensino os segundos anos. Atualmente eu estou em uma escola que se chama L’École du Domaine que fica em Duberger. É uma escola pequena mas muito bonita que atualmente acolhe somente alunos do maternal, primeiro e segundo anos por causa do grande número de novas famílias[1] responsáveis por preencher completamente esses anos.

B: Falando nisso, quando um professor começa a trabalhar… você disse que ensina, digamos, primeiros e segundos anos… quartos anos também. Isso é uma escolha pessoal ou é assim que funciona? S: No começo não é necessariamente uma escolha minha. A turma nem sempre é uma escolha pessoal. Na nossa formação nós podemos trabalhar seja com turmas de maternal, primário, segundo, terceiro, quarto, quinto ou sexto anos. No começo, nós começamos sempre atuando como suplentes. Então, nos substituímos educadores que trabalham em diferentes escolas da comissão escolar que somos contratados. Nesse momento, isso nos permite nos familiarizarmos com os diferentes anos, com as disciplinas, e nesse momento nós podemos ver se estamos mais à vontade com crianças mais jovens ou maiores. Isso nos permite vislumbrar um pouco o que nós queremos. Mas, quando chega a hora de obter uma posição definitiva, as posições são oferecidas segundo uma lista de prioridades que leva em conta o tempo de trabalho. Dependendo de onde estejamos nessa lista, acabamos entre entre os primeiros ou os últimos a escolher onde queremos ir. Não é sempre que conseguimos as posições que queremos mas todos os anos a gente tem a opção de escolher uma nova posição porque se houver algum professor que esteja se aposentando dentro da comissão escolar que a gente trabalha.

B: OK. Era isso que eu queria te pergunta. Nesse caso, não tem a ver com a escola, mas sim com a comissão escolar. S: Exato. Todos os anos são feitos reformulações nas escolas próximo ao mês de abril. É quando a gente verifica as posições disponíveis; se há um professor que está saindo, ou que se aposenta, bom, todos os outros professores podem, seguindo o tempo na escola, escolher pegar essa turma ou não.

B: OK. Ou seja, quem está melhor colocado na lista podem escolher na escola mesmo. S: Exato. Então, os novos que começam, eles terão… eles têm menos escolhas quando iniciam a carreira.

B: OK, como você por exemplo. Agora a pouco, você disse que ensinava o quarto ano mas não era nessa escola em Duberger. Você escolheu trocar de escola depois. S: Sim. Eu… quando eu fui contratado pela comissão escolar eu deveria ensinar uma turma de primeiro ano. Eu fiquei com essa turma eu acho que durante mais ou menos dois anos. Eu gostava de lá, mas era um pouco exigente demais pra mim. Nessa idade as crianças ainda são muito pequenas. Era preciso um lado mais maternal e bem, muita paciência também. Finalmente eu acabei indo parar numa turma de quarto ano com crianças um pouco mais velhas, com quem a gente podia ter discussões mais intensas. Mas eu acabei voltando atrás. Eu passei para o terceiro ano e depois para o segundo. É um nível que eu gosto muito.

B: Steph, me diz uma coisa. Me fala sobre as turmas. Você tem uma sequência ou um programa que é determinado pela comissão ou pelo ministério? S: O programa é determinado pelo ministério da educação. Todas as escolas no Québec devem seguir o programa enviado pelo ministério. É claro que esse programa vai ser adaptado por cada escola de forma diferente. Aqui no Québec nós tem a sorte de ter bastante material de francês, matemática, ciências, história que são preparados e correspondem ao programa. Utilizando certos materiais nós vamos conseguir o que programa prescreve em termos das disciplinas.

B: A seqüência é a escola que decide, é o professor que decide? S: É o professor mas depende também da decisão da direção. Em uma classe é o professor quem decide. Existem professores que decidem não utilizar material nenhum de leitura, sem se sentirem presos a um livro de francês ou de matemática onde eles vão se sentir sem liberdade. Eles vão preferir ensinar a partir da atualidade, de fatos diversos dentro da temática que eles vão utilizar, mas eles têm que se manter dentro dos objetivos do ministério. Isso porque no fim do 4o e do 6o anos existem os exames do ministério onde as crianças devem ter um demonstrar um certo nível de conhecimento a partir do qual serão avaliadas. Então, é importante. Pouco importa a escola que a gente escolha, nós devemos no certificar de cumprir nossos objetivos e o que é definido pelo ministério.

B: O conteúdo que você tem como professor, quem prepara é você mesmo? S: Exatamente, sou eu quem escolhe. É claro que eu vou seguir o programa. Por exemplo, se eu sei que tenho que trabalhar adição com as crianças, eu vou verificar no programa até qual nível eu tenho que levá-los. A gente vai se certificar de trabalhar o conteúdo várias vezes durante o ano pra nos certificar que no final do ano as crianças são capazes, por exemplo no meu caso no segundo ano, as crianças sabem fazer somas subtrações com dígitos auxiliares. Até o final do ano eles devem fazer isso bem. Eu vou pegá-los do nível de fazer operações com um dígito apenas e vou ensiná-los gradualmente de forma que até o fim do ano eles sejam capazes disso.

B: Então esse é um conteúdo a ser trabalhado durante o ano. Não é necessariamente algo a ser trabalhado hoje, amanhã e assim por diante. S: Exatamente. No programa nós temos objetivos que são terminais. Isso quer dizer que até o fim do ano escolar devem ser compreendido pelo aluno, uma série de competências que devem ser adquiridas pelo aluno, mas existem também outros objetivos, por exemplo, que vão ser iniciados. Então, existem várias matérias que nós abordamos mas que mas não podemos avaliar um aluno porque esses assuntos ainda não são definitivos, estão sendo ensinados ainda.

B: OK. Agora a pouco você falou sobre disciplinas. Luis está atualmente no segundo ano, então ele está bem no teu nível. Eu vejo que existem aulas de inglês, aulas de matemática, francês, artes, música. S: Música, inglês. Educação física também.

B: Educação física. Isso. Agora a pouco você falou de história, geografia e outras coisas. Sobre essas outras disciplinas. Elas existem formalmente ou entram dentro do teu circulo, é mais tarde que vão ser adotadas. Como é que funciona? S: Por algumas disciplinas isso é mais tarde. No primeiro e no segundo anos os focos são em francês, matemática, música, inglês, educação física, artes plásticas, ética e cultura religiosa.

B: Isso ainda se ensina na escola? Mesmo depois da polêmica [2] com, a…? S: Sim, mas eu acho que isso vai continuar porque eu acho que isso é mais uma questão de… Em ética e cultura nós falamos sobre diferente religiões.

B: OK, OK. Não é apenas uma religião. S: Não, não, não. Nós abordamos mesmo todas as religiões, falamos um pouco de todo mundo justamente pra aceitação de todo mundo a praticar sua própria religião. É mais em termos de valores.

B: Entendi. Mas como a gente falava, as outras disciplinas entram mais tarde, certo? S: Disciplinas como geografia e historia começam a partir do terceiro ano. Antes disso não quer dizer que não falamos sobre isso nos primeiro e segundo anos. Nós ensinamos. Quando falamos sobre assuntos diversos nós nossa vizinhança, falamos sobre nossas famílias. “Nossa família”, por exemplo, faz parte de ciências humanas. Não de forma integral, mas vamos falar sobre os animais, suas necessidades, que faz parte de ciências. Nós só não cobramos uma nota por esses assuntos.

B: Isso vem mais tarde com outras disciplinas. S: Mais tarde, sim. Isso é na verdade abordado em outras disciplinas de forma mais sistemática. Eles vão ter aulas preparadas para isso.

B: No sexto ano, por exemplo, é o último, certo? Tem quantas disciplinas? S: Eu não sei porque realmente isso mudou bastante. Já faz realmente um longo tempo que eu ensinei essas turmas.

B: Todas aquelas que tu falou estão lá dentro. Então, digamos geografia, ciências… S: Ciência e tecnologia, francês, inglês, matemática, geografia e história são juntas. Eu acho que é basicamente isso, até o sexto ano. Eu acho que não tem mais nenhuma que é incluída depois do terceiro ano. Eu acho que são essas todas as disciplinas.

B: Como a gente dizia, você sabe se, mesmo no 6o ano há apenas um professor ou vários? S: Não é mesmo apenas um professor. Eu ensino quase todas as disciplinas, mas há um especialista que ensina inglês, música e educação física.

B: Pra isso tudo bem, mas e no caso de outras que outras disciplinas? S: Todas as outras são o professor que ensinam mesmo.

B: Você chegou a ensinar no 4o ano, história, geografia e tal S: Exatamente. Tudo vai cair na mesma grade horária.

B: Faz parte da formação do professor primário conhecer todas essas disciplinas. S: Ah, sim. Mas a gente aprende também bastante sobre o momento. Nós temos uma formação geral, como eu te dizia, nós temos disciplinas que nós temos de forma específica mas existem outras onde nós vamos utilizar de tudo que há a nossa volta pra ensinar os alunos. Então, existem coisas que fazem parte, que nós vamos aprender fazendo, trabalhando. Nós vamos procurar informações, de fontes para explicar essas disciplinas às crianças.

B: Num dia de aula, como você programa isso? Digamos, você faz uma seqüência e diz: “ah, eu vou começar com francês e a tarde vai ser, é…” S: A gente é livre. Cada um faz seu horário como quiser. Eu pessoalmente, eu não posso falar pelos outros, porque existem pessoas mais rígidas, pessoas que são mais maleáveis, eu sou mais maleável. Eu vou seguir do ponto onde eu vou sentir como vão meus alunos pra ver como eles estão naquele momento pra saber qual matéria eu poderia apresentar e em qual quantidade. Então, como de costume pela minha experiência, a manhã é um momento onde as crianças estão muito mais dispostas mentalmente a absorver novos conhecimentos e a absorver novas coisas e a experimentar novas tarefas. Isso porque eles estão mais descansados mentalmente. Mais dispostos a aprender. Então, se eu tiver novos assuntos a apresentar, eu vou fazer o possível pra que isso aconteça durante a manhã.

B: Pouco importa a disciplina. S: Pouco importa a disciplina. Então, uma certa manhã eu posso começar com francês enquanto em outras eu começo por matemática. Não é uma rotina que é todo dia, todo dia exatamente a mesma coisa.

B: Se você determinar, por exemplo, que é preciso fazer duas horas de uma e três horas da outra… S: Isso é determinado por semana. Tem um número de testes de base que são escritos. Eu acho que francês são nove horas por semana. Em matemática são 5 ou 7 horas. Eu não lembro de cabeça mas o número de horas que são determinadas. Exceto que, todas essas horas, por exemplo, são menos que o número de horas que nós temos pra ensinar. Então sempre têm um certo número de horas que flutuam que servem, talvez uma semana um pouco mais de francês, um pouco mais de matemática, é um certo número horas que a gente pode trabalhar.

B: Dá um pouco de liberdade… S: Exatamente. Então nessa semana a gente pode fazer um pouco mais de uma coisa do que de outra. Então não é algo cimentado.

B: Por exemplo esse tipo de coisa pra reforçar algo ou é sempre novo conteúdo? S: Não é sempre novo conteúdo, não, não, não. Com os pequenos é acima de tudo importante retornar regularmente ao que eles aprenderam porque eles tem a tendência de esquecer. Eles aprendem bem rápido mas esquecem também bem rápido. Então, é preciso voltar bem frequentemente. Como agora a pouco eu te falar, por exemplo, a adição, eu comecei semana passada, mas esta semana eu tenho que de novo que, mesmo que a gente tenha visto isso semana passada, esta semana eles não lembram mais. Então é preciso recomeçar. É claro que vai vir mais rápido que a primeira vez. Então o ato de repetir e de praticar é como as crianças ficam espertas e entram também na memória, a maneira de fazer a adição, por exemplo.

B: Vamos falar dos exames agora. Tem exames que são feitos pelo professor, ou são feitos pela escola, ou são feitos pela comissão, pelo ministério. S: Bom, mais uma vez, existem diferentes maneiras porque existem diferentes momentos no ano e avaliações que são feitas, então, no ano é quando os professores vão fazer eles mesmos as avaliações ou ainda vão se servir de avaliações que são ligadas ao material que eles utilizam, que são propostos pela editora dos livros que eles utilizam. Por experiência, a gente é consciente que a gente vai mudar algumas questões pra adaptar aos nossos alunos. Isso nós fazemos sempre. Existem avaliações que são propostas pela comissão escolar. Durante o curso do segundo ano, ao fim do ano, a comissão escolar propõe, ela não obriga, uma avaliação de matemática e uma avaliação de francês. Eu a faço praticamente todo tempo porque nos dá uma boa idéia do que a comissão escolar espera dos nossos alunos e ver se meus alunos estão no nível de atender a essas exigências. Não é obrigado ao primeiro, segundo ou terceiro anos. No quarto ano há um exame feito pelo ministério. Então todas as escolas tem o mesmo exame de matemática e francês. E se passa também no sexto.

B: Isso coloca todo mundo no mesmo nível. Dá pra saber se todo mundo… S: Exatamente. Porquê é preciso não esquecer que o ministério, é preciso seguir sempre seguir as recomendações e o programa que o ministério da educação nos obriga a seguir. Então todas as escolas devem seguí-la.

B: Eu tenho a impressão, que com o Luis[3], de tempos em tempos na escola aqui em Ste-Foy, acontece de alguém vir com uma espécie de um exame. Eles respondem algumas questões mas não são feitas nem pela escola nem pelo professor. Como por exemplo, esta semana ele trabalho em um ditado para o… PGL. S: Exatamente. É o ditado PGL.

B: Isso não é nem a escola nem… S: Vai ser o professor que vai fazer o ditado. Talvez no caso dele talvez seja a diretora. Porque, o ditado PGL é como algo que não… que é um extra que não faz parte do quadro escolar mas… não é uma obrigação da escola. O ditado PGL serve acima de tudo, como a conscientizar as crianças que em outro país há algumas crianças com dificuldade. Pra ajudar as crianças no Haiti e elas começam a angariar fundos …

B: Elas ganham moedas como uma forma de recompensa pela conquista das crianças, certo? S: Exatamente. As crianças são estimuladas a pegar palavras de vocabulário e aprender… Para o ditado existe um banco de palavras a aprender…

B: Exato. Existe um banco de palavras a aprender. S: Com o objetivo de fazer um ditado e angariar fundos e em seguida enviar a Paul Gérin-Lajoie, a organização que se ocupa de ajudar o Haiti. Mas isso não fazem parte das avaliações que contam.

B: Não é exatamente uma avaliação que se passa dentro do programa. Não é nem oficial nem do ministério nem do… S: Não, exatamente. O que a gente faz na escola é que, a cada semana o que eu faço não conta necessariamente. Como por exemplo, a cada semana, todas as sextas-feiras, eu faço uma revisão da semana. Então, as palavras que a gente aprendeu durante a semana, algumas pequenas noções de matemática que eu faço uma pergunta. Então a cada semana eu vou avaliar as crianças e os pais recebem o resultado na segunda-feira para acompanhar o avanço. Mas não tem o objetivo de contar como avaliação.

B: Não tem nota, certo? S: Eu às vezes, eu coloco um comentário. Porque isso permite aos pais saberem onde estão as dificuldades dos filhos e a que lugar eles vão bem porque faz bem também saber onde a criança vai bem. “Isso não funciona, eu tenho que praticar aqui”. Isso permite tomar ações antes que seja tarde e perceber que algo não está indo bem. Então a cada semana é esse tipo de acompanhamento que eu faço. Serve também como ligação entre a casa e a escola.

B: Isso me traz a outro ponto que a gente falava agora a pouco. É a história do reforço escolar, o auxílio aos estudos. S: Sim. Você quer que eu fale como a gente faz um pouco na escola no nível de…

B: Sim, sim. Porque eu vejo as vezes eu escuto o Luis dizer “meu amigo não foi patinar com a gente porque ele ficou na sala para”… S: Para terminar o trabalho, talvez?

B: Eu não sei exatamente o que é. S: Talvez seja um caso particular ou talvez seja um aluno que seja um pouco mais lenta que as outras. Existem aqueles também mais dispersos, que não terminam o trabalho ao mesmo tempo porque fazem várias outras pequenas coisas ao invés de fazer o trabalho, então… (risos) É preciso fazer um pouco trabalho disciplinar então. Talvez durante o tempo de patinar seja mais interessante fazer o trabalho.

B: Mas esse não é exatamente uma… S: Mas isso não é uma tarefa. Existem algumas escolas… Na escola onde eu trabalho, eu mando tarefas para fazer a noite (depois das aulas), dois dias por semana

B: Isso não é durante as aulas S: Não, isso é depois da escola. Mas isso não é feito a todos. Isso é o caso apenas de algumas crianças com casos particulares. Existem pais que talvez sejam um pouco menos “competentes”. Porque a gente não pode esconder que existem pais que pra eles é um pouco difícil ajudar seu filhos com as tarefas de casa talvez porque não tenham sido escolarizados ou talvez mesmo pais que não falam bem francês. Então para eles é difícil para eles ajudar seus filhos a fazer a tarefa porque existe a variável da língua. E por isso que as vezes pode haver um dever adicional para essas crianças ao nível de leitura, ao nível de compreensão, de forma a dar um suporte em casa necessário.

B: Falando sobre comunicação. Você como professor, você vê que existe alguém que, digamos, chegou a uma certa etapa do ano onde ele deveria ter chegado mas ele não está. É o professor que aconselha essa pessoa ou não? É pra isso que serve a ajuda escolar? S: Bom, sim mas não é exatamente para ajudar a criança com dificuldade. Esse trabalho é meu. A criança que eu perceber que tenha uma dificuldade ao nível de uma matéria, é minha responsabilidade de fazer a recuperação dos estudos. Então, claro eu posso fazer fora do horário a aula. Eu posso ficar com um aluno ou dois para trabalhar durante 15 minutos, uma meia hora, dependendo do que é preciso trabalhar.

B: Pode acontecer por exemplo que a criança não vá ao service de garde durante o intervalo e que fique com o professor. S: Exatamente. Na semana passada aconteceu algo comigo, por exemplo. Atualmente muitas crianças ficam no service de garde então isso é pratico. Eu aproveito a hora do almoço para trabalhar com um aluno. Eu deixo ele ir almoçar e depois eu vou pegá-lo no service de garde para que a gente trabalhe durante em torno de uma meia hora. Até mais ou menos eles começarem, por exemplo, uma especialidade, educação física ou inglês. Eu não tenho tempo de pegar esse tempo também porque é a pausa de mim também. Como a gente trabalha tanto tempo com os alunos, é preciso que eles tenham esse tempo pra brincarem com seus amigos também senão eles começam a ver o reforço como um castigo. Então, não podemos penalizá-los com isso. Para as crianças que tem dificuldade de aprendizado é realmente o professor que deve, que deve “dar um empurrão” nesse sentido. A ajuda com a tarefa é mais na verdade só um “empurrão” durante a tarefa.

B: É mais específico par então. S: Exatamente. Ou lição e tarefa. É para ajudar nas dificuldades.

B: OK. Vamos falar mais sobre o dia-a-dia das aulas. Quando eles estão todos agitados como é que funciona para fazer valer a disciplina. Colocar as crianças “nos eixos”? S: Bom, olha só, existem tantas formas quanto tem professores, provavelmente(risos). Mas, cada um tem a sua maneira de fazer. Cada escola tem regras de classe que você vai estabelecer. Então, em termos de repreensão, bem…

B: É a escola que determina a linha? S: Na sala sim. O que eu faço: geralmente nós começamos o ano. Nos primeiros dias de aula as crianças têm que se perguntar o que é um bom professor, o que é um bom aluno. Saber o que as crianças sabem o que é um bom professor. O que deve fazer um bom professor? E um bom aluno, o que deve fazer? Então nós começamos com esses dois quadros pra nos ajudar a formular as regras da sala. Porque o bom professor espera que os alunos sejam bons alunos. Então, a gente vai escolher, por exemplo, nós vamos escolher “levantar a mão para falar”, etc, são sempre as mesmas regras a cada ano, normalmente. Então existem regras de classe que são feitas para a disciplina em classe e a forma de disciplinar isso muda de um professor pra outro, como eu dizia agora a pouco. Alguns vão ser mais punitivos mas outros… Eu acredito menos do lado punitivo.

B: Que tipo de punição? S: Pode ser… ficar durante a recreação. Normalmente…

B: Eu fiz a pergunta porque no Brasil normalmente… eu não sei os pequenos, pequenos mas com os mais velhos têm sempre a história de, o professor… o aluno começou a atrapalhar demais e é mandado pra fora da classe. Ele é retirado da sala e é mandado a conversar com o diretor, ou falar com alguém, chamar os pais ou fazer alguma coisa. Mas ele é retirado como forma de punição. Eu não até onde vai essa história de dizer que “isso é uma forma de fazer o aluno ser disciplinado”. Daí fica nessa história de penaliza, sai. Daí volta e começa de novo. S: As vezes pode acontecer que a gente não tem escolha e chegue numa situação como essa. Mas, a recomendação… Se uma criança, porque existem casos de crianças com grandes problemas de se integrar na turma, crianças que vão fazer uma crise. Pode acontecer, não acontece com freqüência, mas quando uma criança realmente cria uma “cena”, porque realmente algumas crianças têm problemas mentais…

B: Quando você falou “cena” você quis dizer… S: De poder lançar coisas, de empurrar a escrivaninha. Então o consenso que nós temos na nossa escola, porque nós já trabalhamos nisso, nós saímos com todos os outros alunos. Então nós tiramos todos os alunos da sala e o aluno que está em “crise” nós deixamos na sala. E então vêm alguém intervir, nós chamamos alguém a intervir, que vai se ocupar do grupo e eu, o professor, eu devo me ocupar da criança em “crise”. Porque sou eu o melhor a intervir porque sou eu que o conheço mais.

B: Entendi. S: A menos que eu não seja realmente capaz de interagir com essa criança. Se essa criança está contra mim, então eu preciso pedir ajuda a outra pessoa, mas geralmente não. Geralmente uma criança que faz uma “crise” raramente é por causa do seu professor. Vai ser por causa do ambiente, de um momento de explosão emocional que eclode que nem ele mesmo entende porquê. Não é algo que acontece regularmente.

B: Ok. S: Mas uma criança, não sei se era isso que você queria saber, mas tomar uma decisão de retirar uma criança sala, se eu tivesse uma criança dessa na sala eu não poderia mais tê-la comigo porque é muito…

B: Não, não. Quando eu falei em retirar seria apenas temporariamente. S: Bom, em outro momento pode ser que durante a aula, a gente pode pedir (e eu faço isso ocasionalmente), uma criança que é realmente muito complicada, que se mexe demais na cadeira, que realmente não é capaz, eu peço que ele vá respirar no corredor: “Saia no corredor. Respire uma ou duas vezes. Depois disso, quando você estiver relaxado entre e você está pronto pra continuar.”

B: Não é uma penalização, é mais uma ajuda na verdade. S: Sim, porque não adianta nada… Quando as crianças chegam nessa situação é porque têm dificuldade em se controlar, então, não ajuda em nada assumir um lado mais punitivo. Isso só os incita mais a continuar entrando em crise. E mesmo na sala de aula uma criança normalmente… O meu sistema de reforço é muito mais do lado positivo. Eu tenho um sistema na sala, um sistema de estrelinhas. As crianças, quando elas têm um bom comportamento elas se dão estrelinhas. E não as perdem nunca. Então se uma criança faz uma “besteira” ele não perde sua estrela. Mas, quando ele faz isso eu aproveito pra dizer: “parabéns ‘Charlotte’,’Romeo’ e ‘Juliette’. Vocês fizeram tal coisa bem e eu lhes dou uma estrela”.

B: E o outro vai sentir falta disso. S: Ele sabe que ele não perde uma estrela mas naturalmente isso vai ajudá-lo a se comportar. A idéia das estrelinhas é de recompensar as crianças com pequenos presentes, evidentemente dados ocasionalmente. Eu acho que isso pessoalmente tem mais efeito positivo do que punitivo.

B: Você nunca pensou em ensino para o secundário ou… Não é o mesmo programa eu crio, certo? S: Respondendo à tua pergunta, não. Eu nunca pensei em ensinar o secundário porque eu acho adolescentes um pouco… mais difíceis.

B: É um outro caminho. S: Sim, é um outro caminho, exatamente. Na universidade vai ser um caminho completamente diferente de ensino. Porque no nível secundário eles são na verdade responsáveis por uma disciplina. Então eles são especializados, por exemplo, em história. São especializados em matemática. Então é diferente do nosso caso. Nós somos generalistas. Então essa é talvez a grande diferença. No secundário têm sempre um (professor) principal e um secundário. Você pode sempre ensinar outra disciplina complementar.

B: Mas eles são realmente especialistas em uma disciplina. S: Exatamente.

B: Ok. Então, eu deixei essa questão pro final, eu trabalhava na lista antes e você a viu. Não sei se você está à vontade ou se você pode nos contar, o que aconteceu na sala de aula de engraçado ou bizarro. Por exemplo, não é a sua área mas eu conheço de usuários de informática que fazem besteiras ou de coisas que acontecem. Eu posso contar de piadas de informática mas… S: Eu acho que isso deve acontecer com todos os pais. Cuidado com o que vocês falam e fazem na frente do seus filhos porque as crianças são verdadeiros livros… abertos (risos). As crianças nunca filtram. As crianças vão nos contar praticamente tudo que se passa em casa. (RISOS)

B: Então isso acontece com freqüência. S: Exatamente. Por exemplo, uma criança me contava: “meu pai ele não fuma. Mas só as vezes, ele fuma um pouquinho, mas um cigarro bem, bem pequenininho.” (RISOS) Eu dizia: “Ok. Tudo bem. Eu não acho que o papai ia gostar que você contasse isso.”

B: A gente precisa tomar cuidado. S: Exatamente.

B: A capacidade deles… S: Exatamente. Também teve outra criança que dizia… Com as crianças também é um jogo de palavras. Uma criança que havia me dito (era um garotinho): “hoje de manhã a mamãe esqueceu de passar Vagisil em mim”. “Que!? Vagisil?!”. “Ah! Lypsyl[4]”

(GARGALHADAS) Isso foi bom me fez acordar de manhã. A gente não estava falando dos mesmo lábios.

B: Eu me lembro, por exemplo, Luis e Vitor começaram a brincar com as partes do corpo. Então eles usam já “toton”, “vagin”, “penis”. Não é que eles achem engraçado mas eles começam a rir. S: É a idade normal. A gente empresta o dicionário na escola pra eles e a famosa página “do senhor e da senhora pelados”. Eu, logo que eu entrego o dicionário aos alunos eu peço que eles abram o dicionário nessa página e os deixo 5 minutos e digo : “olhem, leiam, riam. Vocês têm cinco minutos pra isso.” E pronto. Então, é normal porque é a descoberta também do corpo e eles falam uns com os outros. Não é mais grave que isso.

B: Com certeza que não. É só preciso prestar atenção. S: É só colocar um contexto dentro do outro contexto.

B: Vitor ainda vai à garderie, ele ainda não vai pra escola, mas eu imagino que no contexto de aprendizado, ele pegou e achou engraçado porque fala dele mesmo. S: A gente pode ver como quando as crianças começam a falar “pipi, caca” e “pipi, caca” e uma hora eu tenho que dizer: “Não, chega. Isso é coisa pro banheiro.” Até uma hora isso passa mas vai que o negócio tá vindo mesmo. (RISOS) O meu mais novo uma vez começou com essa história de “caca, caca”.

B: É verdade quando essas coisas vêm… Falando nisso, você é pai e teu mais novo tem quase a idade dos teus alunos e ao mesmo tempo você é professor. Como é que é a vida dele em relação à escola? S: Bom, ele chegou agora ao 1º ano.

B: Ele tem tarefas e tal. É você que ajuda… S: Eu tenho a sorte de terminar (o trabalho) bem mais cedo, principalmente depois que meus horários mudaram na escola, eu termino atualmente perto das 15 horas. Então eu chego em casa perto das 15h30 todos os dias. Daí eu vou pegar as crianças (na escola), eu tenho tempo de fazer as lições e as tarefas com ele. Eu posso te dizer que nem sempre fica claro de “usar os dois chapéus” porque, às vezes a gente se preocupa por nada, seja porque no começo ele é devagar com a leitura a gente se preocupa achando que “não! Ele não é capaz”. A gente se coloca talvez um pouco demais de pressão porque, bem, eu não posso tratar meus filhos diferente dos outros…

B: Eu imaginei assim: como é que um professor reagiria? Por que, digamos, eu não sei exatamente o quê, como exatamente ou em que circunstância um professor aborda um dado assunto. Eu vejo quando (meu filho) faz suas tarefas ele começa a querer utilizar certas técnicas e quando ele não entende como utilizá-las eu me sinto obrigado a explicar exatamente a mesma coisa da mesma maneira (que o professor ensinou). As vezes é mais fácil pra mim explicar pra ele como EU faço. S: Pois é. Desse ponto de vista pra mim realmente é mais fácil.

B: Exato. Você sabe exatamente o que já que você sabe exatamente o que… S: Exceto que, como eu te disse antes, cada professor tem sua própria forma de ensinar. Logo, eu não posso dizer que o professor dos meus filhos vai ensinar da mesma forma que eu faço. Apresentar as coisas da mesma maneira. Então, sim, as vezes pode acontecer deles dizerem pra mim : “Madame Elia não disse isso”. (RISOS) É claro que ajuda bastante conhecer o programa, até onde ele vai.

B: Você gostaria de ter seu filho na sua classe? S: Nem um pouco. (RISOS) Nem um pouco mesmo. Ele mesmo já me perguntou isso. Eu digo: “Não”, acima de tudo por causa dele. Eu mesmo gostaria mas eu acho que pra ele não seria uma coisa boa. Eu não gostaria de usá-lo como exemplo. Entende? Digamos que ele faça algo que não é correto. Eu acho que isso ia acabar trazendo mais do que eu gostaria pra casa. E isso continuaria em casa pra ele enquanto que pros outros não. Então, eu acho que não seria justo pra ele. Eu não gostaria que ele ouvisse das outras crianças: “tu conheces as respostas porque teu pai é o professor.”

B: (risos). É verdade, você tem razão. S: E se ao contrário ele não fosse bem (os outros diriam): “como assim tu não és bom nisso? Teu pai é o professor!” De qualquer maneiro, isso é delicado.

B: Bom, com isso eu termino minhas perguntas, Steph. Você tem alguma coisa que você gostaria de falar, algo que você se lembra? S: Bom, não. Talvez que a parte mais interessante de ser ao mesmo tempo pai e educador é realmente a rotina. Você quando está em casa, tanto faz se durante a lição ou a tarefa de casa, você estabelece uma rotina que você segue a todo tempo de maneiras diferentes. É super positivo pra uma criança fazer sempre as suas coisas no mesmo horário, da mesma maneira, no mesmo lugar, um lugar próprio. Porque é muito parecido com o que eu faço na escola, que eu peço as crianças que trabalhem em um lugar calmo ou um lugar apropriado ao que eles precisam. É talvez o que é mais difícil porque têm muitos pais que sofrem com isso justamente. As vezes quando uma criança não quer. Certas vezes depois de um dia de aula eles estão exaustos, ou eles vão manipular os pais (dizendo) “Eu não consigo” ou talvez eles vão enganar os pais.

B: (risos). Eu sei bem disso. S: As vezes poderia ser uma colaboração do professor dele ligar e deixar uma mensagem. Isso não funciona com meu filho. Já aconteceu comigo de aconselhar um pai : “ok. Ele não quer fazer? Deixe então e amanhã de manhã eu cuido disso.” A criança chegou e eu perguntei: – Você fez a sua tarefa? – Não – Como assim? E daí a criança me disse: – Eu não estava com vontade. – Ah, você não estava com vontade? E nesse momento a coisa fica mais intimidante porque é o professor que fala. Eu exijo que ele faça a sua tarefa. Então, tendo uma boa relação com o educador e o professor, quer dizer, entre os pais e o professor, é super positivo para que a criança se sinta apoiada dos dois lados, tanto em casa quanto na escola para o seu aprendizado.

B: Bom Steph, Obrigado, obrigado mesmo por seu tempo e por obrigado por ter falado. Eu sei que nós somos amigos e você fez isso em consideração à nossa amizade. Eu gostei muito. Mesmo eu levo alguns conselhos e coisas que eu pensava que eu fazia corretamente e agora eu acho que “uhhhhhhh”. S: Não se entrega, não se entrega. Mas, o prazer foi meu. Se você precisar de alguma coisa, não se envergonhe.

B: Muito obrigado. S: Muito obrigado. B/S: Tchau.

Referencias:

  1. No decorrer das duas últimas décadas, o Québec tem visto um mini “Baby Boom” onde as famílias têm tido muito mais filhos que há algumas décadas antes.
  2. O governo provincial atual, no poder pelo PQ (Parti Québecois) têm tido fortes ações à favor do que eles chamam de “Valores Québecois”. Entre essas ações existe a chamada “Charte de Valeurs” (Carta de Valores) que define que todos os símbolos religiosos devem ser abolidos de instituições públicas ou do indumentário de pessoas que trabalham com o público. Isso têm gerado várias polêmicas e muita discussão pública.
  3. Um dos filhos do Berg
  4. Lypsyl é a marca de um protetor labial. Vagisil é um sabonete íntimo para mulheres.

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